O nome de Otto tem o aval do ex-presidente Lula (PT), que se entusiasmou com a ideia como forma de atrair o PSD já no primeiro turno da corrida presidencial. Mas enfrenta as arestas de uma base que rachou após recuo de Wagner e a decisão do governador Rui Costa (PT) de ser candidato ao Senado.
A aliados Otto tem lembrado a necessidade de unidade e organização para lançamento de uma candidatura dessa magnitude. E tem repetido que não se preparou para ser candidato a governador, mas sim a senador.
Para piorar o cenário, parte da bancada do PT iniciou uma rebelião contra a candidatura de Otto, com declarações públicas que reafirmam o nome de Jaques Wagner ao governo.
Wagner anunciou nesta quinta-feira (24) em reunião com deputados federais e estaduais do PT que não quer ser candidato –seu mandato no Senado vai até fevereiro de 2027. Dias antes, ele já havia anunciado sua decisão ao ex-presidente Lula.O senador petista se viu obrigado a desistir da candidatura ao governo depois que o governador Rui Costa manifestou o desejo de concorrer ao Senado no lugar que estava destinado a Otto. Ao perceber que Rui Costa se opunha a sua candidatura, Wagner disse a Lula que não teria condições de disputar sem apoio do governador de seu próprio partido.
A conversa com os deputados gerou reações duras, com declarações públicas contra a candidatura de Otto. "Eu acho que essa tese é uma grande barbeiragem política, no meu ponto de vista. O nome que unifica todos os partidos é o de Wagner", disse o deputado federal Valmir Assunção (PT).
Otto segue negando que já exista uma definição em torno do seu nome para ser candidato a governador.
"Minha candidatura ao Senado está mantida. Nunca disse que sou candidato a governador. Nem Wagner disse que não será candidato", disse o senador à Folha nesta sexta-feira (25).
Em entrevista a jornalistas na Bahia nesta sexta, contudo, ele admitiu que chapa majoritária ainda está em debate e que as discussões devem se estender até depois do Carnaval.
Aliados próximos a Rui Costa garantem que a escolha de Otto Alencar para governo já está sacramentada e que o governador vai renunciar em abril para ser candidato a senador. O anúncio da chapa, dizem, deve acontecer na próxima semana.
Os petistas convocaram uma plenária para a próxima segunda-feira (28) na qual devem reunir deputados, prefeitos, vereadores e líderes do partido para reafirmar o apoio ao nome de Jaques Wagner.
A avaliação entre os deputados é que a escolha de um nome de outro partido poderá resultar na derrota o grupo governista contra a difícil disputa que se avizinha contra o ex-prefeito de Salvador ACM Neto (União Brasil). Também representará uma redução da bancada do PT na Bahia.
Em nota, o deputado federal Jorge Solla (PT) afirmou que não reconhece nenhuma decisão que não passe pelas devidas instâncias partidárias.
"O PT é um partido político, diferente de outros, que não tem dono, tem instâncias de decisão que são respeitadas. Conclamo as bancadas federal e estadual do PT, prefeitos e vereadores, dirigentes e militância, a defender a candidatura própria do PT com Wagner governador", afirmou.
O deputado Valmir Assunção seguiu na mesma linha e lembrou que todas as decisões do PT são debatidas internamente. "Alguém achar que porque é governador ou senador vai decidir algo e o PT não vai debater assunto, é um equívoco", afirmou.
A vereadora em Salvador Maria Marighella (PT) também criticou a possibilidade da escolha da chapa atropelar as instâncias partidárias.
"Conhecer pela imprensa decisões sobre o projeto político e destino da Bahia, sem um amplo debate com mulheres, negras e negros, LGBTQIAP+, juventudes, base partidária e movimentos sociais, não é a nossa cultura política", disse.
Outra parte da bancada baiana, por outro lado, se mostra conformada com a escolha de Otto Alencar para liderar o grupo.
"Não era o que eu queria, até porque o nome de Wagner estava consolidado. Mas, se ele não está com disposição de encarar a tarefa, que não é pequena, temos que respeitar a decisão dele", afirma o deputado federal Zé Neto (PT).
Ele ainda classificou Otto Alencar como uma pessoa leal, de confiança e equilibrada e afirmou que hora é de unificar a base: "É página virada. Temos que pegar o nosso time, botar em campo e ganhar as eleições".
Caso a candidatura seja confirmada, será o fim de um ciclo de 16 anos de governos do PT na Bahia. Quarto maior colégio eleitoral do país com 10,8 milhões de eleitores, o estado é considerado crucial para a estratégia nacional da candidatura de Lula ao Planalto.
Folha
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